May 31, 2007

:: PERFIL 2 ::

:: Continuamos neste espaço a fazer o perfil das pessoas que constituem o SlotClassics. Hoje em conversa com Mário Zagalo, personalidade vincada do slot da região do Grande Porto. Apreciem a entrevista:



Nome: Mário Rui Zagalo de Lima
Idade: 50 anos
Profissão: Conservador/Restaurador, Artista Joalheiro e outras coisas

SC: O primeiro contacto com os slot-cars? Como foi?
A minha descoberta dos slot-cars (gosto mais de dizer carros de pista) aconteceu no velho Bazar Paris através dos fascinantes Cox, Revell, Monogram, Strombecker e Russkit. As possibilidades técnicas, a qualidade mecânica e o design desafiaram as capacidades dum miúdo de 10 anos e determinaram em definitivo o meu encanto pela qualidade na permanente busca da perfeição.

Os primeiros contactos foram através da posse do kit Ford Cobra da Revell, adquirido no último ano em que se passou a fronteira de automóvel para Gibraltar. Lá vi os famosos macacos habitantes do morro, mas, enquanto um olho vislumbrava os ditos cujos, o outro fixava-se intensa e perdidamente na maravilhosa caixa de esferovite e cartão donde sobressaía a pintura do fulgurante automóvel, ladeada por fotos de detalhes técnicos dos componentes do kit.

A pista onde fiz andar o Cobra pela 1ª vez, comprou-ma o meu Pai em Vigo, no mesmo ano. Era uma Scalextric espanhola de 4 calhas, à qual se juntou um conjunto de peças que permitiam um perímetro que cabia no salão com 4x10m da nossa cave. Senti um calafrio quando após a passagem da fronteira, o carocha do meu Pai foi mandado parar por aqueles senhores simpáticos que partiam os dedinhos aos comunistas e chateavam a malta que arrotava umas meras postas de pescada acerca do Gajo que ganhou aquele concurso idiota do Português Mais Fixe. Após algumas infrutíferas negociações entre o meu Pai e os outros gajos amigos do Gajo, fui afinal eu que resolvi a questão, utilizando uma arma de grande precisão e persuasão – berrei cumócarágu e pus o ar mais infeliz do mundo da altura – num é que funciono mesmo. A esta distância concluo que afinal os gajos até que não eram maus rapazes!



SC: E depois, a evolução?
A minha casa passou a ser um verdadeiro centro de vício, onde tudo tinha cabimento, desde corridas de 4 h com os scalextric F1 com motores RX-1, artilhados com tudo o que a mona ditava – condensadores, bobinagens maradas, óleos para dentro do motor até pneus construídos, carroçarias inventadas (qual tuning, qual carapuça, aquilo era design do melhor que há), e muito mais, sendo que os resultados finais destas doutas e aventureiras incursões, expressavam-se muitas vezes em reais e maravilhosos incêndios – era a realidade fotográfica das reportagens da velha Automobile ou Sportauto que passava das paredes do circuito “a cave do zagalo” para o plástico asfáltico da pista. À altura não se falava de adrenalina, dizia-se tão-somente – foooo-da-se, biste aquela méeerda! Que saudades deste tempo em que se praticava o bom português.

Bom, em abono da verdade, havia pelo meio e bem destacado, recortes das musas da Lui e da Penthouse, que tinham o condão (se bem se lembram os rapazes da minha criação) de manter os níveis energéticos ao mais alto nível; excelentes esses verdadeiros compêndios pedagógicos!

A competição nunca foi o meu interesse principal, preferia a construção, a modificação e a componente estética.
Fui frequentador esporádico das pistas comerciais, da Lapa, de Passos Manuel (frente ao Coliseu) e durante as minhas estadias natalícias em Lisboa, costumava ir à pista de madeira do Jardimcinema limpar as palhetas dos Cox, e, que saudades tenho do Cucaracha.

SC: Terá muitas recordações desta época. Quais as melhores?
Para não me repetir e penitenciar-me das extensas respostas anteriores, direi que as melhores recordações foram os episódios já narrados, a camaradagem e a amizade que este entretenimento me proporcionou.



SC: Colecciona muitos modelos, hoje em dia?
Não tenho o espírito do coleccionismo, contudo existem modelos que guardo e que funcionam como referências, sejam réplicas de mitos da competição ou máquinas de boa e grande prestação. Sou daqueles que gosta de sentir no dedo as características e prestações do vários modelos e só isto pode explicar o número relativamente elevado de modelos que já possuí e ainda possuo. Guardo sim, religiosamente, restos de chassis, todo o tipo de parafusos e parafusinhos, porque para além de ser coca-bichinhos sei que algum dia ainda vai ser preciso.



SC: Continua a dedicar bastante tempo aos “carros de pista”?
Actualmente estou parado. Como muita gente sabe, tive muita actividade ao longo dos últimos anos, não tanto na competição mas sobretudo na tentativa de incremento da modalidade. Deu-me muito gozo tudo o que fiz, contudo as desilusões minaram o meu voluntarismo e hoje em dia só me dedico à organização de eventos em que o oportunismo, lucro e o vedetismo não têm lugar. Gosto de ouvir coisas como estas – “gostei imenso, esteve um ambiente leve, cooperante e despretensioso” – chamem-me vaidoso…, mas na verdade eu gosto que a malta curta esta merda e que deixe o doutor e o engenheiro à porta do nosso clube.

SC: Como encara hoje em dia o slot?
Lentamente activo, com períodos de hibernação como é o actual momento, mas sempre a germinar mentalmente no próximo evento (ou antes, acontecimento) do grupo SLOTCLASSICS.



SC: Como prevê o futuro desta modalidade?
Estou plenamente de acordo com a opinião expressa pelo Chico Bianchi na resposta a esta mesma pergunta. Tenho algum receio quanto à prática da modalidade, as pessoas gravitam nos poucos sítios existentes, perdem muito tempo com as imposições de alguns, com a intolerância de outros, critica-se e interpreta-se muito e…, no final (diria à Porto – e na volta a malta afinal quer toda a mesma coisa, salvo algumas ranhosas excepções.
Acho sinceramente que se podia criar outros pólos, eventualmente mais dirigidos para determinadas classes. O cansaço tem sido visível ao longo dos últimos através do afastamento parcial ou total de velhos apaixonados ou doutros mais recentes não menos apanhadinhos que os dinossauros. E em jeito de conclusão, diria que os excessos nunca fizeram bem a ninguém…, e todos os dias o mercado é inundado de novidades!

January 10, 2007

:: PERFIL ::

Vamos aproveitar este blog para ficarmos a conhecer um pouco melhor alguns amantes deste movimento clássico. Iniciamos estes artigos por uma figura bastante conhecida no meio e um dos primeiros impulsionadores do “Slot Classics”.

Nome: Francisco Bianchi de Aguiar
Idade: 47 anos
Profissão: Médico Pediatra



SC: Como foi o seu primeiro contacto com os slot-cars?
FB: Talvez com 10 anos. Nessa altura o meu pai comprou uma pista Jouef (com o Porsche 917 e o Matra 650) para entreter o meu irmão que havia sido operado. Imediatamente fiquei fascinado pelos carros e pelas suas possíveis modificações. A competição veio logo a seguir.

SC: Após esse contacto, continuou a praticar este desporto?
FB: Inicialmente com os meus irmãos - sou o 9º de onze. Só mais tarde iniciei o contacto com outros praticantes. Até lá chegava-me o que tinha em casa, com os irmãos e amigos. Só me estreei mais tarde no Orfeão de Matosinhos, já com 16 anos, numa corrida com um Policar (McLaren F1) em que me classifiquei em 8º.
A partir daí comecei a participar com alguma regularidade.



SC: Como foi a evolução?
FB: Rapidamente evolui para a classe Parma 1/32 e Livre e aí me mantive até aos 25 anos, mas então já na pista do E.V.S., na Promoslot (Póvoa) e outras. Sempre em chapas e ao mais alto nível até que fartei pois não disponha de tempo nem dinheiro para aguentar a parada. E como gostava de ganhar... Devo acrescentar que nessa altura achava os carros de plástico
sem interesse. Quem diria que mais tarde... Após um longo interregno de quase 17 anos deparei com uma pista de slot em Gaia, ao procurar um jipe usado. O bichinho que eu julgava morto e enterrado nunca mais se calou.

SC: Quais as suas melhores recordações - e as piores?
FB: Ainda hoje recordo a corrida inaugural do E.V.S. em que fui convidado pelo João Rodrigues para a sua equipa. Na altura representou para mim a confirmação que se calhar teria algum jeito. Obrigado João! Mais tarde a vitória nas 24 horas no EVS ainda com o João Rodrigues, o Jaime Campos, o meu irmão Carlos e o Carlos Prata.
Recordo com tristeza o fio partido nos últimos minutos da corrida no meu Parma que me fez perder o 1º campeonato de Parmas no EVS para o meu amigo Jaime Campos. Os tempos actuais não me marcam tanto. Mas ainda me divirto muito.



SC: Na sua colecção, guarda muitos modelos?
FB: Apenas guardo o meu chassis flexi-board completo 1/32 que comprei em 1980 ao Tony Hough por 3 contos e com o qual pouco ou nada ganhei. Corria com um induzido GP 20 em pista de plástico. Não sou de todo um coleccionador de slot. De estáticos 1/43 sim.

SC: Continua a dedicar bastante tempo a este hobby/desporto?
FB: Demais. Não há dia em que não procure na Net qualquer coisa relacionada com o slot.



SC: Como encara hoje em dia o slot?
FB: De uma forma mais lúdica e sem ambições de vencer. Começo a apreciar mais a preparação e até o coleccionismo (quem diria). A organização de eventos como este que agora decorreu agrada-me imenso. Mas não pretendo deixar de correr. Apenas correr sem compromisso.

SC: Como prevê o futuro desta modalidade?
FB: Começa a ser assustador a permanente saída de novos carros, novos materais e de novas tecnologias. Tem de haver a preocupação de criar uma contenção de custos, sob pena de a maioria das pessoas se afastar. Eu até já assisti a esse filme nos anos 80... e não gostei.